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Superando o ódio, brasileira vai ao Miss Universo Trans | Noticias do mundo


Brilhando em um vestido de baile vermelho cravejado de joias, a rainha da beleza brasileira Eloa Rodrigues sabe a sorte que tem: no país mais mortífero do mundo para pessoas trans, ela ousa viver seus sonhos.

A esbelta e marcante jovem de 29 anos do subúrbio do Rio de Janeiro sai no domingo para representar o Brasil no Miss International Queen na Tailândia, o concurso considerado o “Miss Universo Trans”.

Ela se considera uma “fora de casa” afortunada, dada a sua origem: a pobre e violenta cidade de São Gonçalo, do outro lado da baía do Rio, no país que estabeleceu o recorde de assassinatos de pessoas trans nos últimos 14 anos.

Rodrigues, a rainha do principal concurso trans brasileiro, foi criada por sua tia e avó em um lar amoroso e receptivo, e teve a oportunidade de estudar na universidade, seguir carreira como modelo e atuar, e agora viaja meio mundo para o famoso estância balnear de Pattaya.

Mas ainda é difícil para uma mulher negra trans como ela sonhar no Brasil, diz ela.

“Passei por muitos processos muito difíceis para chegar onde estou hoje”, diz ela à AFP enquanto prepara o almoço em sua casa confortável e espaçosa, cujas paredes bege são decoradas com fotos de família – e, no quarto de Rodrigues, seu troféu coleção.

“Houve momentos em que cheguei muito perto de desistir de tudo, cheguei perto de abandonar a própria vida.”

Rodrigues, que estuda ciências sociais na Universidade Federal Fluminense, reluta em entrar em detalhes sobre sua infância e transição.

Ela conta da época: “Tive que ser muito forte para encarar minha família e dizer: ‘Olha, sou mulher’, quando esse tipo de referência simplesmente não existia aqui”, diz ela.

“Mas encontrei forças para articular isso com minha família e fazê-los me entender e me respeitar – e para mim entender e respeitar os processos pelos quais eles tiveram que passar”.

Sua tia, Ivone, tem sido uma rocha de apoio.

“É importante apoiar o sonho dela”, diz Ivone. “Ela deu tudo para chegar onde ela quer estar.”

Nem todos na situação de Rodrigues têm esse apoio.

“A grande maioria das pessoas trans enfrenta uma realidade de possibilidades, sonhos e afetos muito escassos”, diz Rodrigues.

– Estatísticas sóbrias –

Os números da violência contra pessoas trans no Brasil são preocupantes.

O país de 213 milhões de pessoas, que tem uma cultura machista profundamente enraizada, lidera o mundo em assassinatos de pessoas trans todos os anos desde que a organização Transgender Europe começou a manter estatísticas em 2008.

Houve 92 assassinatos desse tipo no ano passado e um total de 1.645 desde 2008, de acordo com os relatórios anuais do grupo.

Pessoas trans negras representam uma quantidade desproporcional dos assassinados no Brasil – 80% em 2018, de acordo com outro grupo de direitos humanos, o Antra.

“Acho que para a maioria das pessoas trans e travestis que conheço, seu maior medo é morrer”, diz Rodrigues.

“Isso costumava ser a minha realidade, também”, diz ela. “Mas não mais. Claro, não sou privilegiada, porque ainda sou trans e negra, mas estou tendo a chance de perseguir meus sonhos.”

Não que tenha sido fácil.

Rodrigues tem lutado para organizar sua viagem à Tailândia, onde competirá contra 23 outras finalistas de todo o mundo quando o concurso abrir em 25 de junho – adiado por dois anos pela pandemia de coronavírus.

Tem sido uma batalha árdua para encontrar patrocinadores. Ela está financiando principalmente suas viagens e guarda-roupa – com quase 30 roupas diferentes necessárias.

“Muitas pessoas e marcas não querem vincular sua imagem a uma pessoa como eu”, diz ela.

“Quando ganhei o título nacional (em 2020), recebi muito ódio e racismo nas redes sociais.”

Se ela ganhar, ela planeja usar o prêmio de 450.000 baht (US$ 13.000) para ajudar sua família e realizar um de seus maiores sonhos: se tornar mãe, diz ela.

“Quero que as pessoas olhem para mim e pensem: ‘Uau, ela fez isso – então eu também posso.'”



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