Cúrcuma

O comércio de especiarias romana e islâmica: novas evidências arqueológicas


Relevância etnofarmacológica: As especiarias tropicais são utilizadas há muito tempo na medicina e na culinária tradicionais. Novas evidências arqueológicas destacam mudanças temporais na natureza e escala do antigo comércio de especiarias e no uso antigo dessas plantas. Além disso, um estudo de sua ‘materialidade’ destaca que o impacto das especiarias se estende além de suas propriedades materiais. Aqui, são avaliados os restos botânicos de especiarias recuperadas de escavações arqueológicas em um porto ativo no comércio de especiarias islâmicas romanas e medievais.

Materiais e métodos: Escavações recentes em Quseir al-Qadim, um antigo porto localizado na costa do Mar Vermelho do Egito, forneceram novas evidências para o comércio de especiarias. Devido às condições áridas, antigos vestígios botânicos foram preservados em abundância e incluíam especiarias, bem como uma vasta gama de outras plantas alimentares. Quseir al-Qadim foi ativo como um centro de transporte durante os períodos romano e islâmico (ca. 1-250 DC, conhecido como Myos Hormos, e novamente durante ca. 1050-1500 DC, conhecido como Kusayr), e os restos assim facilitam um estudo da mudança temporal no comércio e uso dessas especiarias. Métodos arqueobotânicos padrão foram usados ​​para recuperar, identificar e analisar esses vestígios.

Resultados: Pelo menos sete especiarias tropicais foram recuperadas das escavações, bem como várias outras importações tropicais, incluindo pimenta preta (Piper nigrum), gengibre (Zingiber officinale), cardamomo (Elettaria cardamomum), açafrão (Curcuma sp.), Fagara (cf. Tetradium ruticarpum), myrobalan (Terminalia bellirica e Terminalia chebula) e noz de betel (Areca catechu). Um contraste marcante entre os dois períodos cronológicos na gama de especiarias recuperadas aponta para mudanças na natureza e escala do comércio entre os períodos islâmico romano e medieval, enquanto as diferenças nos contextos dos quais foram recuperadas ajudam a identificar mudanças temporais no forma como as especiarias foram utilizadas durante esses períodos.

Conclusão: Evidências arqueológicas e textuais sugerem que na antiguidade as especiarias eram usadas em rituais (ritos fúnebres, oferendas), na perfumaria e em remédios medicinais, sendo a pimenta-do-reino a única especiaria tropical regularmente empregada na culinária. No período medieval, o papel culinário das especiarias havia crescido significativamente, tanto no Oriente Médio quanto na Europa, embora mantendo sua importância em aplicações medicinais. Em ambos os períodos, eram luxos disponíveis apenas para as camadas superiores da sociedade, mas as propriedades materiais das especiarias e seu status de elite as tornavam desejáveis ​​para um setor mais amplo da sociedade. Em sua busca por temperos, as pessoas se enredaram em uma rede de relacionamentos, realidades sociais alteradas e lutas de poder político. A globalização é um desses emaranhados, destacando que a potência das especiarias vai muito além de sua capacidade de estimular nossas papilas gustativas, deleitar nosso olfato e curar nossas doenças.

Palavras-chave: Arqueologia; Globalização; Materialidade; Quseir al-Qadim; Especiarias; Troca.



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