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Senado do Brasil recomendará indiciar Bolsonaro por resposta desastrada da Covid


Um relatório do Senado a ser apresentado na quarta-feira recomendará que o presidente Jair Bolsonaro seja indiciado por acusações criminais por supostamente atrapalhar a resposta do Brasil à pandemia COVID-19 e elevar o número de mortos do país para o segundo maior do mundo.

O relatório, que se baseia em seis meses de trabalho da comissão, pede que Bolsonaro seja indiciado por nove acusações, desde charlatanismo e incitação ao crime até crimes contra a humanidade, segundo dois membros da comissão que vem investigando a forma como o governo está lidando com a pandemia.

Eles concordaram em discutir os detalhes do relatório antes de sua apresentação pública formal apenas se não citado nominalmente.

O relatório ainda pode ser modificado antes da votação do comitê em 26 de outubro, e a decisão de arquivar a maior parte das acusações caberia ao procurador-geral do Brasil, que foi indicado pelo presidente.

Analistas dizem que não está claro se ele agiria.


Jair Bolsonaro pode enfrentar acusações se o procurador-geral do Brasil, que foi nomeado por Bolsonaro, decidir prosseguir (AP Photo / Eraldo Peres)

As acusações recomendadas também incluem o uso indevido de fundos públicos e “prevaricação”, que acarreta atrasos ou abstenção de ações exigidas como parte do dever de um funcionário público por razões de interesse pessoal.

Bolsonaro negou qualquer irregularidade e acusou repetidamente a investigação de ser um instrumento político destinado a sabotá-lo.

Os críticos denunciaram o Bolsonaro por minimizar a gravidade da Covid-19, ignorando as diretrizes internacionais de saúde sobre máscaras e restrições à atividade projetada para prevenir a propagação do vírus, divulgando tratamentos não comprovados e retardando a aquisição de vacinas.

A raiva com a resposta do presidente levou à criação do comitê do Senado em abril, que investigou as alegações de que a gestão de Bolsonaro da pandemia causou muitas das mais de 600.000 mortes no Brasil pela doença.

O senador Renan Calheiros, que redigiu o relatório, deve apresentar sua versão final na quarta-feira ao comitê de 11 pessoas. Um rascunho anterior tinha quase 1.200 páginas.

O documento tem de ser aprovado pela comissão antes de ser enviado ao gabinete do procurador-geral, que decidirá se deve prosseguir com a investigação e, eventualmente, processar as acusações. No Brasil, membros de comissões parlamentares podem investigar, mas não têm poder de indiciar.

Independentemente de o promotor-geral agir, as alegações do relatório devem alimentar críticas ao líder de extrema direita, cujos índices de aprovação despencaram antes de sua campanha de reeleição em 2022.

“O maior impacto da investigação é político, pois gerou toneladas de notícias que certamente serão utilizadas por estrategistas de campanha no próximo ano”, disse Thiago de Aragão, diretor de estratégia da consultoria política Arko Advice.

Mesmo durante os piores estertores da pandemia, Bolsonaro rejeitou veementemente as restrições à atividade, alegando que os pobres sofreriam maiores dificuldades se a economia parasse. Ele continua a argumentar que o medicamento anti-malária hidroxicloroquina é eficaz no tratamento de Covid-19, embora estudos amplos e importantes o tenham considerado ineficaz e potencialmente perigoso.

Durante seis meses de investigação, os senadores obtiveram milhares de documentos e ouviram depoimentos de mais de 60 pessoas.

“Este comitê coletou evidências que demonstraram abundantemente que o governo federal foi silencioso e optou por agir de maneira não técnica e imprudente”, de acordo com um rascunho anterior do relatório, que foi analisado pela Associated Press na terça-feira.

O rascunho recomendava que o presidente fosse indiciado por homicídio e genocídio também, embora os dois tenham sido descartados diante da oposição dos membros do comitê e da preocupação de que alegações bombásticas pudessem minar a credibilidade do relatório.

O projeto concluiu que o governo “deliberadamente expôs a população a um risco concreto de infecção em massa”, influenciado por um grupo de conselheiros não oficiais que defendeu a busca da imunidade coletiva muito depois de muitos especialistas afirmarem que essa não era uma opção viável.

Além de Bolsonaro, o relatório final vai recomendar acusações a dezenas de aliados, atuais e ex-membros de seu governo e seus três filhos mais velhos, todos políticos, segundo os dois senadores que falaram à AP.



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