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Explicado: O que está por trás dos últimos distúrbios na Irlanda do Norte?


Jovens atiraram tijolos, fogos de artifício e bombas de gasolina contra a polícia e incendiaram carros e ônibus sequestrados durante uma semana de violência nas ruas da Irlanda do Norte. A polícia respondeu com balas de borracha e canhões de água.

As ruas estavam mais calmas na sexta-feira à noite, enquanto os líderes comunitários pediam calma após a morte do príncipe Philip, marido de 99 anos da rainha Elizabeth II. Mas pequenas gangues de jovens atiraram objetos na polícia e incendiaram um carro durante surtos esporádicos em Belfast.

As cenas caóticas trouxeram memórias de décadas de conflito católico-protestante, conhecido como “Os problemas”. Um acordo de paz de 1998 acabou com a violência em grande escala, mas não resolveu as tensões enraizadas na Irlanda do Norte.

Um olhar sobre o pano de fundo da nova violência:

POR QUE A IRLANDA DO NORTE É UMA TERRA CONTESTADA?

Geograficamente, a Irlanda do Norte faz parte da Irlanda. Politicamente, faz parte do Reino Unido.

A Irlanda, há muito dominada por seu vizinho maior, se libertou cerca de 100 anos atrás, após séculos de colonização e uma união difícil. Vinte e seis de seus 32 condados tornaram-se um país independente de maioria católica romana. Seis condados do norte, que têm maioria protestante, permaneceram britânicos.

A minoria católica da Irlanda do Norte sofreu discriminação em empregos, habitação e outras áreas no estado administrado pelos protestantes. Na década de 1960, um movimento católico pelos direitos civis exigiu mudanças, mas enfrentou uma resposta dura do governo e da polícia. Algumas pessoas dos lados católico e protestante formaram grupos armados que aumentaram a violência com bombardeios e tiroteios.

O Exército Britânico foi implantado em 1969, inicialmente para manter a paz. A situação se deteriorou em um conflito entre militantes republicanos irlandeses que queriam se unir ao sul, paramilitares leais que buscavam manter a Irlanda do Norte britânica e as tropas do Reino Unido.

Durante três décadas de conflito, mais de 3.600 pessoas, a maioria delas civis, foram mortas em bombardeios e tiroteios. A maioria estava na Irlanda do Norte, embora o Exército Republicano Irlandês também tenha detonado bombas em Londres e outras cidades britânicas.

COMO O CONFLITO TERMINOU?

Na década de 1990, após conversas secretas e com a ajuda de esforços diplomáticos da Irlanda, Grã-Bretanha e Estados Unidos, os combatentes chegaram a um acordo de paz. O acordo da Sexta-feira Santa de 1998 viu os paramilitares deporem as armas e estabeleceram um governo de partilha de poder católico-protestante para a Irlanda do Norte. A questão do status final da Irlanda do Norte foi adiada: ela permaneceria britânica enquanto fosse o desejo da maioria, mas um futuro referendo sobre a reunificação não foi descartado.

Embora a paz tenha durado em grande parte, pequenos grupos dissidentes do Exército Republicano Irlandês montaram ataques ocasionais às forças de segurança e houve surtos de violência sectária nas ruas.

Politicamente, o acordo de compartilhamento de poder teve períodos de sucesso e fracasso. A administração de Belfast entrou em colapso em janeiro de 2017 por causa de um projeto de energia verde malsucedido. Permaneceu suspenso por mais de dois anos em meio a uma rixa entre os partidos sindicalistas britânicos e os nacionalistas irlandeses sobre questões culturais e políticas, incluindo o status da língua irlandesa. O governo da Irlanda do Norte retomou o trabalho no início de 2020, mas ainda persiste uma profunda desconfiança de ambos os lados.

COMO O BREXIT COMPLICOU AS COISAS?

A Irlanda do Norte foi chamada de “filho problema” do Brexit, o divórcio do Reino Unido da União Europeia. Como a única parte do Reino Unido que tem fronteira com uma nação da UE – a Irlanda – foi a questão mais difícil de resolver depois que a Grã-Bretanha votou por pouco em 2016 para deixar o bloco de 27 nações.

Uma fronteira aberta com a Irlanda, sobre a qual pessoas e bens fluem livremente, sustenta o processo de paz, permitindo que as pessoas na Irlanda do Norte se sintam em casa tanto na Irlanda quanto no Reino Unido.

A insistência do governo conservador da Grã-Bretanha em um “Brexit rígido” que tirou o país da ordem econômica da UE significou a criação de novas barreiras e freios ao comércio. Tanto a Grã-Bretanha quanto a UE concordaram que a fronteira não poderia ser na Irlanda devido ao risco que isso representaria para o processo de paz. A alternativa era colocá-lo, metaforicamente, no mar da Irlanda – entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido.

Esse arranjo alarmou os sindicalistas britânicos, que dizem que enfraquece a posição da Irlanda do Norte no Reino Unido e pode impulsionar os apelos pela reunificação irlandesa.

POR QUE A VIOLÊNCIA ERUPTOU AGORA?

A violência tem ocorrido principalmente em áreas protestantes dentro e ao redor de Belfast e na segunda cidade da Irlanda do Norte, Londonderry, embora os distúrbios tenham se espalhado para bairros católicos.

A Grã-Bretanha deixou o abraço econômico da UE em 31 de dezembro, e os novos acordos comerciais rapidamente se tornaram irritantes para os sindicalistas da Irlanda do Norte que desejam permanecer no Reino Unido. As primeiras falhas comerciais, exacerbadas pela pandemia do coronavírus, levaram a algumas prateleiras de supermercados vazias, aumentando o alarme. O pessoal da fronteira foi temporariamente retirado dos portos da Irlanda do Norte em fevereiro, depois que pichações ameaçadoras pareciam ter como alvo os trabalhadores portuários.

Havia raiva porque o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que por muito tempo insistiu que não haveria novos controles sobre o comércio como resultado do Brexit, havia minimizado a escala das mudanças provocadas pela saída da UE. Alguns membros da comunidade legalista britânica da Irlanda do Norte sentem-se ameaçados.

“Muitos legalistas acreditam que, de fato, a Irlanda do Norte deixou de fazer parte do Reino Unido tanto quanto era”, disse o professor de política da Universidade de Ulster Henry Patterson à Sky News.



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